O que muda com a confirmação do primeiro caso de coronavírus no Brasil?

O que muda com a confirmação do primeiro caso de coronavírus no Brasil?

O Brasil teve nesta quarta-feira (26/02), o primeiro caso positivo de coronavírus (Covid-19) em um homem de 61 anos, que vive em São Paulo, com histórico de viagem à Itália, na região da Lombardia (norte do país), entre o período de 9 a 20 de fevereiro. Dois dias depois de retornar ao Brasil, o paciente apresentou sintomas como febre, tosse, dor de garanta e coriza, então procurou ajuda médica no Hospital Israelita Albert Einstein e, após exames feitos pela instituição e pelo Instituto Aldofo Lutz, a infecção foi confirmada e divulgada pelo Ministério da Saúde.

Segundo o Ministério da Saúde, o paciente está bem e em isolamento domiciliar até que os sintomas desapareçam. Outros 30 familiares que também tiveram contato com o paciente durante uma reunião familiar no domingo (23/02), e os passageiros que vieram com o paciente no mesmo avião, também estão sendo monitorados. A recomendação é monitorar essas pessoas por 14 dias caso tenha manifestação dos sintomas.

Além do primeiro caso confirmado, no Brasil há 132 casos suspeitos sendo monitorados (até 28/02). O número aumento muito porque houve a ampliação da quantidade de países que entraram no monitoramento por serem considerados pelo Ministério da Saúde com transmissão ativa do vírus.

O médico infectologista e coordenador do SCIH (Serviço de Controle de Infecção Hospitalar) do Hospital Aeroporto, Antônio Carlos Bandeira, explica o que muda com a confirmação desse caso do coronavírus no Brasil, o que podemos esperar e se estamos vivendo uma pandemia (quando a infecção já está amplamente disseminada  pelo mundo).

O que é que muda com a confirmação desse caso de coronavírus no Brasil?

A partir de agora, sabemos que qualquer paciente com quadro respiratório pode estar infectado com o coronavírus, porque o vírus entrou e já está circulando no Brasil. É claro que esta disseminação não será em minutos nem horas, mas ao longo das próximas semanas, com certeza, vamos ter a disseminação do vírus aqui no Brasil.  O que precisamos fazer é nos preparar. Tanto do ponto de vista da população que deve ajudar a diminuir a propagação tomando os cuidados necessários, como também dos profissionais de saúde que devem estar aptos para atender os pacientes. Aqui no Hospital Aeroporto toda a equipe já foi treinada e vamos continuar reforçando as orientações.

O novo coronavirus (Covid-19) já foi dectado em 45 países, com isso vamos ter um aumento muito grande de casos avaliados como suspeitos?

Sim, vai aumentar muito. O número de casos suspeitos cresce e aí há uma demanda muito grande para fazer exames que confirmem ou afastem essa hipótese.

Porque os brasileiros que vieram da China tiveram de ficar em quarentena enquanto o paciente confirmado em São Paulo pode permanecer em isolamento domiciliar. O que diferente uma coisa da outra?

O que difere na verdade, vamos dizer que seja o impacto daquele momento. O que acontece é que à medida que as pessoas se contaminam lá fora e vão chegando ao Brasil e não possuem um quadro grave que justifique ficar no hospital, essas pessoas devem ser encaminhadas para casa. O ideal é que permaneçam em casa até que elas se restabeleçam para que não transmitam o coronavírus para outras pessoas. Então a restrição é de circulação. Foi isso que fez a China e alguns outros países. O grande problema no Brasil é que nossa legislação não é rigorosa ao ponto de impedir que o indivíduo saia de casa, permitindo que se faça um bloqueio domiciliar. Por isso é muito importante que informação de qualidade seja amplamente disseminada.

Então não é necessário manter no hospital as pessoas que venham a ter casos suspeitos, apenas aquelas que estiverem em estado mais grave?

Se mantivermos todos os casos suspeitos em hospitais, até que sejam confirmados ou afastados, teríamos uma quantidade gigantesca de pessoas dentro dos hospitais, então não temos como fazer isso. O ideal é que não fiquem circulando para não contaminar outras pessoas. Então a medida recomendada é mandar para casa e orientar a quarentena domiciliar.

Mesmos os casos confirmados podem ser tratados em casa?

Quando o caso não é grave, pode ser tratado em casa. A maioria dos casos podem ser tratados em casa.

Já podemos considerar a disseminação desse coronavírus como uma pandemia?

Eu acho que já é uma pandemia. Está em vários continentes, vai ganhar volume, o que a gente tem que tentar fazer é controlar essa pandemia para que ela atinja o mínimo de pessoas possíveis. Dando tempo de conseguirmos uma vacina que seja eficaz, mas isso não deve chegar antes de um ano, provavelmente.

O que difere quando temos apenas contaminações que ocorreram fora do Brasil de quando há uma transmissão dentro do país?

O que difere é que a gente chama de casos importados os que vieram de fora do Brasil. Esses mostram que a transmissão ainda está se fazendo fora e o que esse caso foi importado para dentro do Brasil. A partir do momento em que há uma transmissão dentro do país, que chamamos de transmissão autóctone, há uma ampliação do número de potenciais casos de pessoas infectadas. Ainda não tivemos nenhuma confirmação nesse sentido