Saúde mental dos idosos: impacto da pandemia covid-19

Saúde mental dos idosos: impacto da pandemia covid-19

Os idosos sempre foram sujeitos vulneráveis em nossa sociedade. É inegável que vivemos numa época que supervaloriza a juventude em detrimento dos valores associados à passagem do tempo. O culto à juventude aparece na mídia quando se discute para quem será destinado o leito da UTI. A literatura especializada em velhice e em envelhecimento demostram que nossa cultura ainda tem um olhar de preconceito sobre a idade, considera que “a velhice” é um processo de decrepitude corporal associando, imediatamente, velhice à doença.

Antes de qualquer consideração, é importante marcar que tanto a velhice quanto o envelhecimento são heterogêneos. Uma pessoa que envelhece na capital e outra que envelhece na zona rural terão envelhecimentos distintos. Então há que se considerar os fatores sociais, econômicos, políticos, educacionais e muitas outras variáveis para falar desse processo. Vamos considerar “as velhices” então, no plural.

Pandemia Covid-19

A pandemia inscreveu a finitude no imaginário das pessoas, e, de forma mais enfática, nos idosos. Novas rotinas foram instituídas no interior das famílias a partir da possibilidade de contaminação e morte dos mesmos e esse tema passou a habitar as conversas e mídias sociais. O idoso também teve que lidar com uma tecnologia que não é fácil e habitual.

O confronto com a morte anunciada despertou as lembranças de perdas do passado, visto que o envelhecimento é atravessado por lutos familiares. Esses lutos, associados à uma rotina mais limitada, geraram quadros de ansiedade, estresse e depressão. Esses sujeitos não conseguiram metabolizar tantos afetos que o invadiram subitamente. Os cuidados muito focalizados com a saúde física acabam por desprestigiar o fator emocional que demanda tempo e escuta por parte do cuidador. Mas existe também um grande problema na nossa realidade, é que o cuidador muitas vezes é um outro idoso igualmente vulnerável.

Fatores predispõem maior sofrimento psíquico ao idoso

Sabemos que alguns fatores predispõem maior sofrimento psíquico ao idoso: a vivência de uma doença crônica em estado avançado, falta de rede de apoio, acesso precário à assistência da saúde, dor, morte recente de familiares, especialmente do cônjuge, falta de sentido na vida, conflitos familiares e falta de condições de moradia.

No que diz respeito a saúde mental do idoso, podemos ressaltar que a pandemia só agudizou antigos problemas relacionados a velhice e que merecem uma grande discussão da sociedade. A projeção sociodemográfica do mundo está mudando e teremos daqui a vinte anos um país mais envelhecido e sem repertório para abrigar essa nova face, menos jovem.

Não podemos passar pela vida sem envelhecer. Não somos imunes a passagem do tempo, entretanto esse é um assunto árido e postergado, assim como a finitude.

García Márquez (2005) ao completar 90 anos relata: “a gente continua se vendo dentro como sempre foi, mas de fora os outros reparam”. A velhice aparece a partir do olhar do outro. Velho sempre é o outro!

Artigo: Sheyna Vasconcellos, psicóloga do Hospital Aeroporto