Infecção urinária: como controlar

Infecção urinária: como controlar

É comum, ao longo da vida, que pessoas experimentem ao menos uma vez a desagradável sensação de apresentar um quadro de infecção urinária em suas diversas formas. A infecção do trato urinário (ITU) apresenta denominações específicas conforme sua localização no sistema urinário, cistite quando se limita à bexiga, pielonefrite quando presente no rim.

ITU é uma doença totalmente predominante, mas não exclusiva, do sexo feminino. Isso se explica pela conformação anatômica da genitália trato urinário da mulher. A uretra feminina é curta, em média com 2,5 cm. Desta forma, germes que habitualmente vivem na vulva, vagina e região perianal, através de vários mecanismos, penetram na via urinária (bexiga) e iniciam o processo inflamatório.  Assim entende-se porque é incomum a apresentação de ITU verdadeira em homens.

INFECÇÃO URINÁRIA EM HOMENS

A uretrite masculina, doença sexualmente transmissível causada por germes, diferentes da ITU, representa um processo inflamatório da uretra, sendo que o ardor ao urinar e a secreção que podem surgir, levam a serem erradamente interpretadas como infecção urinária. A ITU em homens está normalmente associada a algum processo anatômico ou funcional anormal, como a obstrução pela próstata em idosos, presença de cálculos ou cateteres, malformações, etc. É extremamente raro o surgimento espontâneo de infecção urinária verdadeira em homens.

RELAÇÃO ENTRE INFECÇÃO URINÁRIA E VIDA SEXUAL

ITU não é uma doença sexualmente transmissível, mas pode, em sua maioria, estar relacionada ao coito. Durante a penetração, que tem sentido contrário à micção, bactérias que habitam a vagina, o períneo e a região perianal, aproveitam o impulso e adentram, por via retrógrada através da uretra, à bexiga.  Uma vez lá alojadas, em muito pouco tempo, podem se instalar na parede interna do órgão e proliferar, causando assim a infecção propriamente dita. Assim, em média 12 a 24 horas após o ato sexual, se iniciam os sintomas como: aumento da frequência das micções, dor, ardor, sensação de plenitude constante da bexiga, chegando a sangramento e, quando o processo, por via retrógrada, atinge o rim instala-se a pielonefrite, levando a dor lombar, mal estar, febre e quadros mais graves. Comumente o quadro está ligado à ocasião de baixa imunidade.

Não é possível esterilizar a vagina e a região perianal da mulher. As bactérias que provocam infecção urinária normalmente habitam essa região sem causar problemas e fazem parte da flora normal. Notemos que não é do parceiro que se adquire a infecção, e sim de bactérias da própria mulher.

Deste modo, quando uma mulher apresenta ITU de repetição, não há praticamente nada a ser feito no parceiro, quando este está assintomático.  Também não há grande necessidade de múltipla investigação na mulher.  Considera-se esperado que uma mulher, na idade reprodutiva e sexualmente ativa, apresente duas a três infecções urinárias no ano.  Nesta circunstância, a investigação é básica e apenas o tratamento comportamental deve ser inicialmente estabelecido, com o tratamento medicamentoso reservados apenas para as crises. Caso este número supere esta expectativa, ou em outras circunstâncias como doenças associadas, imunodepressão, infecções multi-resistentes e quadros graves, é preciso prosseguir na investigação e o tratamento passa a ser mais específico. Trata-se então do quadro de infecções urinárias complicadas ou de repetição.

INFECÇÕES URINÁRIAS DE REPETIÇÃO

Como a maioria dos quadros se resolve espontaneamente ao longo dos anos, a mulher adota medidas comportamentais espontâneas, como aumento da ingestão de líquidos e consulta ginecológica. Porém estas não são as únicas medidas a serem tomadas.

É importante que o médico explique a paciente detalhadamente o mecanismo de funcionamento da via urinária, bem como das infecções, para que a mulher tenha total conhecimento do seu problema, saiba reconhecer as crises no início e possa, com autoridade, impedir o agravamento de uma infecção, controlar a frequência e, estabelecer em conjunto com seu médico, o tratamento a ser estabelecido em cada momento da sua vida. Uma visita ao Urologista é normalmente recomendada. Muitas vezes, com a orientação devida e a compreensão imediata, esta visita é extremamente importante para a saúde da mulher.

Infecção urinária de repetição pode ser grave, mas na verdade é uma doença frequente no consultório urológico, ginecológicos e nas unidades de emergência, na sua forma simples. Muitos mitos e preconceitos se criam. Em meio a prolongado sofrimento, a natureza trata de resolver o problema espontaneamente e felizmente não costuma deixar sequelas.  Mas vale sempre a pena evitar as agruras de uma doença que, apesar de ser benigna na sua essência, maltrata a mulher de forma muito cruel.

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Marcelo Cerqueira
Urologista | CRM 14027
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Urologia